quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

DE MAL A PIOR!!!!!

Voltaire era maravilhoso com as palavras, mas nem sempre alcançava a mesma excelência com as ações.
O autor da lindíssima frase acima também foi um dos maiores perseguidores da Igreja Católica ao longo do Século XVIII. Um de seus sonhos era a extinção do domingo, o tradicional “dia de ir à igreja”, dos calendários, medida que, segundo ele, acabaria com o Cristianismo caso fosse colocada em prática.
Historiadores são quase unânimes na defesa de Voltaire, alegando que a Igreja da época era exploradora, vil, cruel e estava muito longe de se parecer com Cristo. O cerne da questão, porém, não está nos pecados dos antigos papas, mas na contradição do filósofo francês.
Caso levasse sua própria frase 100% a sério, Voltaire deixaria em paz os padres que detestava, por mais que eles o irritassem e até mesmo se eles não merecessem. Afinal, não era ele que defenderia até a morte a liberdade alheia?
A verdadeira democracia – ao menos a descrita na frase de Voltaire – é aquela que cede o microfone para aqueles que, segundo o ponto de vista de outrem, deveriam permanecer calados e autoriza o discurso dos que, na opinião de alguns, não deveriam ter voz. Na democracia, até quem incomoda tem o direito de ser livre!
Quase 300 anos após a sua morte, Voltaire sequer imagina, mas sua frase tem muito a ver com o atual momento do jornalismo e da sociedade brasileiros, que apregoam a liberdade enquanto perseguem seus próprios “papas”.
Não é difícil identificar a “Igreja Católica” de cada emissora de TV. Todas elas possuem ênfases e óticas particulares que beneficiam amigos e pintam de cinza os inimigos.
Há quem diga, por exemplo, que a Globo é anti-PT; outros, com a mesma passionalidade, a acusam de ser a principal responsável por ter elevado o partido ao poder. Alguma destas versões é verdadeira? E, caso seja, haveria algum erro nisto?
Segundo o Voltaire escritor, não. O erro estaria em não assumir a existência de um sentimento particular, negação que, infelizmente, assola a nossa imprensa, ocupada em manter a imagem politicamente correta enquanto pratica um jornalismo incorreto.
A imparcialidade total não existe e jamais existirá. Como seres humanos, cada um de nós possui, por natureza, a sua própria visão e, consequentemente, sua própria interpretação do fato.
Imagine, por exemplo, um macaco comendo uma banana. Um amante dos animais noticiaria o fato com a seguinte manchete: “Macaco se delicia com banana”. Quem, no entanto, se compadecesse da fruta, escreveria: “Banana é devorada por macaco”.
Algum dos dois estaria errado? Não! O fato é o mesmo, o que muda é a ótica. Errado estaria o defensor do macaco caso dissesse que a banana não deveria estar ali ou o amante das bananas se afirmasse que macacos deveriam ser extintos.
O erro reside no radicalismo que deseja apagar opiniões alheias da face da Terra. Errados estão os que, assim como Voltaire, afirmam que é possível defender a todos, quando, em seu íntimo, sempre estão a acusar alguém.
Ativistas anti-Globo a acusam de parcialidade. Mas e quanto a eles?
Ativistas anti-Globo a acusam de parcialidade. Mas e quanto a eles?
No último domingo (21), William Bonner foi premiado com o Troféu Mário Lago no “Domingão do Faustão” e se tornou alvo da ira da filha do falecido escritor, que acusou a Globo de ter utilizado a premiação para exaltar seu próprio jornalismo.
Ora, se a Globo é a criadora do Troféu, haveria algum erro em dá-lo a um de seus membros? A emissora não é livre para premiar a quem quiser? Como empresa privada, a Globo não pode tomar suas próprias decisões? Não é preciso ser nenhum Voltaire para encontrar a resposta para estas perguntas.
Este ódio cego contra a emissora reflete a cegueira de quem a ele se dedica. “A Globo manipula até o Troféu!”, dizem. Só é manipulado quem se permite. Até Voltaire, que vivia num país católico mas odiava a Igreja, sabe disso.
O pecado, no entanto, não se restringe à intolerância dos críticos – que querem ser donos do Troféu alheio -, mas também pode ser visto na hipocrisia da Globo, que finge que Bonner venceria o Troféu por méritos próprios, mesmo que fosse da Record ou do SBT.
Não há por que negar que comandar o “JN” lhe credenciou ao prêmio. Não há por que negar que um jornalista da concorrência não possui a menor chance. Isso em nada desmoraliza o Troféu; pelo contrário, torná-lo-ia mais transparente e sincero.
O jornalismo brasileiro precisa urgentemente “sair do armário”, assim como o público. A imprensa, composta por seres humanos, tem o direito de defender quem quiser, desde que o faça de forma clara. A nós, telespectadores, resta o sagrado direito de utilizar o controle remoto.
Quem não quiser ouvir, que faça o que Voltaire não pôde fazer com a Igreja e simplesmente ponha a TV no mudo. Aqueles, no entanto, que estiverem dispostos a ampliar suas fronteiras devem aumentar o volume e ouvir o que o “outro lado” tem a dizer.
Na democracia, sempre há uma lição a ser tirada, independente de quem seja o preletor.

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